Rokaz Trip na França (7): Chamonix Mont Blanc

Na segunda passada, chegamos em Chamonix, a capital mundial do alpinismo. A cidade se localiza no fundo de um vale estreito e muito profundo, no coração dos Alpes franceses.
Em cima de Chamonix, dezenas de montanhas verticais, agulhas de granito e de gelo de mais de 4000m de altitude, desenham uma paisagem montanhosa espectacular.
Nesta época do ano a cidade está lotada de turistas e alpinistas, particularmente durante os mêses de Julho e Agosto no verão europeu.
Preferimos procurar tranquilidade e dormir fora da cidade. Descobrimos por acaso um bivaque ideal numa floresta a alguns kilometros da cidade. Nosso sono profundo foi incomodado só por alguns javalis procurando comida no meio da noite...





Em Chamonix, nos encontramos com dois amigos franceses. Resolvi deixar Yan e o Gustavo um dia e meio em Chamonix para tentar uma escalada dificil com meus dois amigos franceses.
Subimos na terça a tarde um vale de gelo famoso perto da cidade, o vale "d'Argentières".
O vale estava deserto porque o refúgio está passando por reformas e este ano não abrirá.

Fotos da subida do glaciar gigante de Argentières:





Esse vale é muito famoso porque dele surgem dois dos paredões de gelo mais dificeis dos Alpes: a Face Norte dos "Droites" e a face Norte dos "Courtes".
Escolhemos um lugar plano para bivaquar, estudamos bastante as duas faces e finalmente escolhemos a Face Norte dos "Courtes" que parecia em melhores condições.

Eu, comendo no bivaque, estudando a via do dia seguinte na Face Norte dos "Courtes":



A via que estavamos querendo escalar segue uma canaleta de gelo quase vertical de 850 m de altura no meio da Face Norte dos Courtes :



O bivaque, a 3000 metros de altura:



Depois de 3 horinhas de sono, acordamos a 12h30 para escalar a primeira parte do paredão a noite e aproveitar as temperaturas negativas: com menos 15 graus, o gelo fica bem duro e mais seguro de escalar.


Mas a escalada foi bem mais dificil do que o previsto: o gelo estava muito fino em cima das rochas, apenas 10 cm , e não deu para proteger-se com parafusos de gelo (de 20 cm de comprimento em média).
As paradas eram bastante ruins, usamos só alguns moveis entre gelo e rocha. Nesse tipo de paredão, não têm descanso nenhum, o direito de cair não existe, a forma física e mental deve estar ótima...
Demoramos bem mais do que o previsto, quando o sol chegou às 7 da manhã, tinhamos escalado um terço do paredão !!
O problema com o sol é que quando ele chega, a temperatura passa a ser positiva, o gelo começa a derreter, a neve fica fofa, e os dois piolets e dois grampões não seguram tão bem o peso do corpo...




Finalmente esse dia foi tão frio que a neve ficou bastante dura o dia inteiro, mesmo com a chegada do sol. Conseguimos escalar a segunda parte do paredão a francesa, ou seja os três escaladores juntos sem fazer paradas, para ganhar um tempo precioso.
O final do paredão era misto, neve e granito:






Os 150 últimos metros se resumian em neve... somente .... neve, muito ingreme:



O cume dos "Courtes", uma aresta linda:




O visual do cume:
A esquerda, as famosas "Grandes Jorasses", e a direita, o mais famoso ainda "Mont Blanc", topo da Europa com 4810m de altitude:



No cume não pode cair, tem dois paredões de 800m de altura de cada lado!




A descida do outro lado menos vertical da montanha foi dificil também por causa da neve que estava muito fofa.
Chegando no glaciar no fundo do vale, achamos alguns pedaços de um avião que tinha caído la alguns meses atrás!




Depois passamos no pé do paredão mais famoso dos Alpes: a face Norte das Grande Jorasses, 1200 metros de gelo e granito verticais! Esse vai ficar pro ano que vem!!



Depois de 3000 metros de desnível de descida, chegamos no vale na quarta à noite, bastante cansados...
Nos encontramos de novo com o Yan e o Gustavo que estavam muito animados para escalar altas montanhas.
Decidimos escalar o Mont Blanc nos dois dias seguintes. Para o Yan e o Gustavo, ia ser com certeza um desafio grande porque eles não estavam aclimatados à altitude ainda...

No camping, o Gustavo e o Yan, preparando o material para subir o Mont Blanc, com dois piolets cada um:



Para subir o Mont Blanc, escolhemos uma via PD (Pouco Dificil, a escada de graus usada para alpinismo na França vai de F a ED, de Facil a Extremamente Dificil).
Não é a via mais fácil porque é bastante comprida, mas ela é muito pratica porque um teleférico leva os alpinistas até 3800m de altitude, graças ao teleférico da agulha do "midi".
Na quinta-feira subimos então até o topo da agulha do Midi com o teleférico.

Do topo do teleférico, os turistas podem observar os alpinistas descendo da agulha :



Da agulha do midi, da para ver o Mont Blanc, a montanha mais alta ao fundo:



Dois alpinistas subindo a agulha do Midi (mais uma foto tirada do topo do teleférico):




Na foto seguinte, Gustavo e Yan estão descendo a aresta da agulha do midi. Foi a primeira vez que o Gustavo usou grampões!





Depois de meia hora de descida, chegamos no acampamento: um glaciar plano no pé da primeira montanha, teriamos que subir no dia seguinte para chegar até o Mont Blanc: o Mont Blanc du Tacul (4248m).



Gustavo e Yan chegando no acampamento:



Depois de montar a barraca, reparamos que o Gustavo tinha esquecido todas as panelas que tinhamos preparado com cuidado! Mandamos ele visitar todas as barracas vezinhas para pegar algumas emprestadas...

Na foto sguinte, o Yan esta comendo dentro da barraca: depois do por de sol, a temperatura desce, desce ainda, 0 grau, menos 5, menos 10...




O dia seguinte acordamos 1h da manhã e començamos a subir o Mont Blanc du Tacul.



Em baixo dos 4000 metros de altitude, o Gustavo estava tranquilo ainda, ele subiu contando altas piadas...



Observamos o sol nascente terminando o crux da via, um lance de 60 metros a 45 graus de gelo e neve:




Descubrimos que, infelizmente, o dia era bastante nublado. Mas as vezes, as nuvens deixam as fotos mais lindas...



Depois do Mont Blanc du Tacul, escalamos o Mont Maudit (4465m), a segunda montanha na longa via para o Mont Blanc:



Na ultima parte da subida, entre o Mont Maudit e o Mont Blanc, uma camada de nuvens altas parecia a uma tampa sobre a montanha:



De repente, a partir de 4300 m de altitude, o Gustavo parou de falar, o rosto dele virou branco como neve, e ele començou a cair na neve cada 50 metros como Jesus no caminho da cruz. O yan também començou a sentir-se fraco. Ninguem escapa do mal de altitude se nao estiver aclimatado...



Mas finalmente, a vontade de chegar até o cume foi maior que a dor fisica e chegamos no topo da Europa depois de 7 horas de caminhada intensa, nossos dois herois esgotados...



O Gustavo na frente e o Alexis atras, na direita tem outra dupla de alpinistas no cume:



Na descida o tempo melhorou bem, començamos a sentir calor.




Chegando no Mont Maudit, olhamos por tras e vimos a ultima parte da subida até o cume do Mont Blanc com alguns alpinistos atrasados:





O gustavo e o Yan descansando na descida, com o cume do Mont Blanc atras:



Descendo de rappel o crux da via, O Yan pulando uma larga greta:



A foto seguinte mostra um paredao de gelo negativo. Nao pode ficar muito tempo em baixo, porque o glaciar vai sempre para frente e, as vezes, cai...



Alexis na descida, no Mont Blanc du Tacul:



O gustavo e o Yan num pequeno vale glaciar espectacular:




Um paredao de gelo negativo de 50 metros de altura: deu vontade de escalar, mas nao escalamos... Que pena que, as vezes, cai...




Chegamos de volta na barraca as 3 da tarde, morrendo de sede, de fome e de calor. Entre a noite e o dia, no mesmo lugar, a temperatura varia de 40 graus!

Tevimos que desmontar a barraca, e tinha ainda um ultimo desafio nesse dia longo: subir os 300 metros de desnivel até o teleférico. Foi uma corrida pois o ultimo teleférico do dia era às 6 da tarde e començamos a subir a 17:15 com mochilas de mais de 20 kilos...


Na subida encontramos um skiador descendo em alguns segundos a agulha do Midi:


Felizmente o staff bem simpatico do teleférico nos viu tentando subir rapido para chegar a tempo, e esperou até as 18:20 para descer. Que bom! A ideia de bivaquar mais uma noite a 3800 m de altitude sem panela nao nos alegrava muito...
Vinte minutos depois, estavamos em Chamonix, no meio dos turistas, no meio das lojas de material de montanhismo, do asfalto e do concreto, que contraste impressionante!
Duas horas atras, o Yan e o Gustavo pensavam: nunca mais!!
Um pouco mais tarde, de volta na terra plana demais dos homens normais, os alpinistas pensam: qual montanha vai ser a proxima?



Texto e fotos: Alexis