Mais um brasileiro escalando em Chamonix!

Há duas semanas atrás, tive a sorte de guiar de novo um amigo brasileiro nas altas montanhas de Chamonix, nos Alpes franceses. Marcos Guterres, que participou da Rokaz Trip 2010 na França, já tinha se apaixonado pelas montanhas de Chamonix no ano passado e queria voltar para escalar outros paredões...

No primeiro dia, o tempo estava bastante ruim, com previsão de pancadas de chuva durante a tarde. Escolhemos um paredão de 11 enfiadas em 5° e 6° graus, e nos preparamos psicologicamente para descer a qualquer momento de rappel de baixo de chuva! Depois de escalar algumas enfiadas, começou a chover, várias vezes, mas a chuva nunca demorou mais de 10 minutos e conseguimos finalizar quase a noite a escalada do que foi o maior paredão do Marcos!

No segundo dia, subimos ao refúgio Alberto 1° para tentar o dia seguinte a mesma escalada que eu tinha feito em Julho com o Bruno Graciano, a Aiguille du Tour. Infelizmente, o tempo quando saímos do refúgio de manhã cedo estava razoável, mas foi piorando ao longo da subida. Com ventos a 80 km/h, neve e granizo na cara, visibilidade a menos de 10m por causa da neblina, desistimos a 100m abaixo do cume. Os outros alpinistas que queriam escalar a mesma montanha já tinham descido há muito tempo!

Depois de um dia de descanso, o tempo melhorou de vez em Chamonix e nos preparamos para o maior objetivo da trip do Marcos: a escalada da Arête des Cosmiques, na Agulha do Midi (3842m), um paredão de 300m de escalada mista (rocha, neve e gelo), em frente ao cume do Mont Blanc!

Por ser linda e de acesso muito facil, essa via é muito clássica: para chegar ao cume da Aiguille do Midi, basta tomar um teleférico!

Para começar a escalada, o alpinista tem que descer primeiro uma aresta de neve linda e bastante exposta: se ele cair na esquerda da aresta, ele pode cair de 1000 metros!

 



Marcos seguindo a trilha bem marcada que nos levou até a base da Arête des Cosmiques:


Na base da aresta, tem um antigo observatório de raios cósmicos que deu o nome a aresta que escalamos.

O Marcos no início da escalada e o observatório abaixo:


Atrás do Marcos, os gigantes glaciares descendo do Mont Blanc:


Ao nosso lado, um dos cumes da Aiguille du Midi com um escalador no topo! Reparem a qualidade do granito, so olhar para ele da vontade de escalar!


A escalada alternou lances em rocha e em gelo. A melhor estratégia nesse caso, para não perder muito tempo é escalar tudo com as botas rigidas de alpinismo e os crampões!




Durante a escalada passamos na base de um monolito bem famoso, onde tem uma via de escalada de fenda de décimo grau a 3700 m de altitude! Atrás dele, o rei do macizo, o cume do Mont Blanc...


O crux da via é um muro de 6 metros em 4° grau. A escalada de um quarto grau é facil para a maioria dos escaladores, mas com crampões não foi tão óbvia! Nesse muro uma fenda proporciona boas agarras para as mãos, mas de longe a pedra parecia bem lisa para os pés!
Outros alpinistas na nossa frente escalando o crux:


Na realidade, essa via já foi escalada milhares de vezes por alpinistas do mundo inteiro, quase sempre de crampões, e eles acabaram cavando agarras de pé na parede lisa: dois buraquinhos perfeitos para enfiar as 2 pontas dos crampões!!
Marcos no crux:


A 3700m  de altitude, a respiração é curta! O Marcos deu raça no crux e fez bonito!!



No final do crux, sempre com o maior cume dos Alpes atrás:




Acesso fácil, paisagens grandiosas, escalada bastante técnica muito interessante num granito de sonho foram os ingredientes de uma escalada linda e memorável!

O Marcos já escolheu a via do ano que vem: a face Sul da Aiguille du Midi, do mesmo estilo, mas um pouco mais difícil!


O mesmo dia a tarde, encontrei com três outros amigos e subimos até a base de um outro paredão em Chamonix que queriamos escalar o dia seguinte. Depois de três horas de subida com mochilas bem pesadas, encontramos um platozinho de pedra 3* para passar a noite, perto de dezenas de paredões de 300 a 1000 metros de altura...


Sonhamos com entalamentos doloridos, agarrões confortáveis e agulhas de granito perfeitas...

No dia seguinte, ao amanhecer, já tinhamos subido um glaciar e estavamos na base do lindo paredão amarelo que iamos escalar: "California Dream", 15 enfiadas de fenda de sétimo grau a serem protegidas com móveis.


Um dos "crux" do dia foi alcançar a pedra: tivemos que descer de cinco metros no buraco entre o gelo e a pedra para começar a escalada!


Depois foi só alegria... Enfiadas de 50 metros seguindo quase sempre a mesma fenda perfeita...



Com o visual do glaciar "Mer de Glace", o maior da França, logo abaixo:


E outras montanhas muito famosas atrás. Nessa foto, as Grandes Jorasses (e sua famosa Face Norte) na esquerda, a Dent du Géant (Dente do Gigante) na direita e a Mer de Glace embaixo:


Foi mais um cume lindo, um momento de pura felicidade...




Logo depois embarquei para uma outra trip de escalada na Corsica, uma ilha maravilhosa no mar Mediterrâneo, que contarei numa próxima postagem do Rokazblog...

Boas escaladas a todos!
Alexis

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