Rokaz Trip (5): Depois do Yosemite

No último dia em Yosemite, começou a nevar. Ficamos, na última noite no Camp 4, com os amigos escaladores para festejar nossa escalada do Nose e a abertura de uma nova via em livre do Nicolas Favresse e do Sean Villanueva no El Capitan: uma via de décimo grau, "The secret passage". Essa conquista estará provavelmente na próxima capa da "Climbing", a revista de escalada mais lida no mundo . Só existem 4 ou 5 vias que foram escaladas em livre no El Capitan!!

O mais legal é que os dois caras, além de serem uns dos melhores escaladores do mundo, são ótimos músicos também! Todas as noites do nosso portaledge, durante a escalada no Nose ao longe escutávamos eles tocando violão e flauta ao redor da fogueira no Camp 4. Foi muito bom também participar da "Jam session"...



No dia seguinte nos despedimos do Yosemite deixando algumas pendências: Separate Reality, Astroman, Salathé Wall... É sempre bom deixar pendências num pico de escalada, da muito mais vontade de voltar lá um dia...

A estrada para atravessar o parque estava fechada por causa da neve, decidimos ir para o Sul da Califórnia, no Parque Nacional de Joshua Tree. No caminho paramos para observar as sequóias gigantes do parque do Yosemite: essas árvores tem até 15 metros de diâmetro por 80 metros de altura...




O Parque de Joshua Tree é famoso pelas árvores estranhas que crescem lá: os Joshua trees, meio árvores, meio cactos. As paisagens desse parque são surreais, dependendo do ponto de vista parece ser um deserto super árido ou uma floresta de cactos e de gigantes blocos de pedra... Chegamos de noite no parque, o dia seguinte, pareceu que acordamos em Marte ou Vénus!



Os boulders são muito altos, geralmente são escalados com móveis, mas escalamos alguns fáceis sem corda. A pedra é um granito ultra abrasivo.



Esse foi um dos mais altos.




Olhem esse arco...



Não da vontade de acariciar essa plantinha?!


Achamos algumas fendas, sempre são as linhas mais óbvias a serem escaladas no granito onde tem poucas agarras:





Próxima rajadinha de vento e essa pedra cai!


Um positivo lindo com agarras minúsculas.




Final do dia em Joshua Tree.





Depois voltamos para o Norte da Califórnia, passamos pelo famoso Vale da Morte, o "Death Valley", onde o tempo é o ano inteiro extremamente quente e seco. As paisagens são também espetaculares, com imensos lagos salgados secos e brancos,



montanhas áridas e multi-coloridas,


dezenas de canyons secos,



imensas dunas de areia,




e uma lua cheia a noite...



Na quarta passada chegamos em Bishop. A fama internacional de Bishop é do mesmo nível que a do Yosemite, mas para boulders. A menos de 10 kilometros da cidade de Bishop tem dois picos de boulders alucinantes, e completamente diferentes !

Mais uma vez chegamos de noite num lugar tranquilo para bivaquar, e tivemos que esperar a luz do dia seguinte para descobrir o pico. O sol nascente foi inesquecível, as montanhas nevadas em cima de nos apareceram primeiro vermelhas antes de virar brancas.





Estávamos num maravilhoso planalto coberto de centenas de boulders amarelos e redondos, um desses lugares que parece ter sido criados para deixar os escaladores mais uma vez apaixonados por escalada!




Esse primeiro pico chama-se "Buttermilk". A rocha é quase o mesmo granito abrasivo que em Joshua Tree, mas nos boulders tem muito mais agarras. A especialidade local é boulders levemente negativos com pequenos regletes.


O visual é deslumbrante...



Achamos também alguns negativos com agarrões.



Uma travessia bombante!


Um positivo mais fácil:


Uma aresta perfeita, tudo em equilibro:



Isso é o "Mandala", um dos 5 boulders mais famosos do mundo. Foi escalado por Chris Sharma em 2001, nessa época ele achou que era um V16!! Mas o Dave Graham achou um método diferente e o grau do boulder baixou para V12... O escalador francês Tony Lamiche flashou o boulder 3 anos atrás, e abriu um "sit start" em V14. Eu na base do boulder, a saida é muito osso:



Os boulders mais impressionantes de Buttermilk são os "high balls", esses boulders de mais de 10 metros que tem que escalar com bastante cuidado se não usar corda...



Um positivo técnico de 12-13 metros de altura...



Depois de 5 metros não adianta mais dar segurança de corpo, o importante é a concentração...

Nesse "high ball" o Cédric tirou uma foto minha que é tal vez a foto mais linda da trip:





O mesmo dia a noite fomos dormir na beirada de um lago nas montanhas. O dia seguinte o amanhecer foi lindo com as montanhas refletindo no lago:





O segundo pico de boulder em Bishop é o "Happy Boulder". Fica a 20 km de "Buttermilk" mas é completamente diferente ! A pedra é vulcânica, com milhares de agarras, geralmente agarrões, mono-dedos e bi-dedos, um pouco como no calcário.

Esse pico é de importância mundial também, como para "Buttermilk", eu viajaria tranquilo umas 20 horas para escalar em "Happy Boulder" alguns dias!

No pico tem uma floresta densa de boulders:


Uma pedra com milhares de buracos.





Um positivo com micro agarras.


Entre sombra e luz, o escalador dança na pedra!


Um teto com agarrões.


O qual será o próximo boulder que escalaremos? Tem opção demais nesse lugar! Que desespero, ficamos um dia só nesse paraíso...


Um muro com regletes.


No final do dia achamos um boulder perfeito com duas arestas retas que tem que escalar em "compressão". Não sei o grau desse boulder tal vez um V6 ou um V7, esses dias escalamos sem guia, curtindo a perfeição dessas pedras sem preocupar-se com os graus...






E Bishop não seria tão perfeito se não tivesse isso a alguns kilômetros dos picos de boulder.



Umas fontes de água quente completamente naturais!!

Quando a noite a temperatura do ar estava em baixo dos 5 graus, passávamos horas relaxando nessas piscinas de água a 35 ou 40 graus e olhando as milhares de estrêlas... Bishop é uma maravilha!

Agora voltei ao Brasil, em novembro vamos apresentar as fotos da Trip na Rokaz!

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